quarta-feira, outubro 29, 2008

Navio Negreiro de Castro Alves completo (1/2)

Poema Navio Negreiro de Castro Alves (1868) lido por Ruggero Quenttallonni.
Contextualização: ruggero
assistente de vídeo: Daniel Martins
Dividido em duas partes para ser colocado no Youtube

O poema:

I

'Stamos em pleno mar, doido no espaço
brinca o luar- dourada borboleta -
E as vagas após ele correm... cansam
Como turbas de infantes inquietas.

'Stamos em pleno mar... do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
- Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar...Dois infinitos
Ali s'estreitam num abraço insano...
Azuis, dourados, plácidos, sublimes
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...

'Stamos em plenoi mar...Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brique corre à flor dos mares
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem?onde vai?Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?...
Neste Saara os corceis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço...

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!...
Embaixo - o mar...em cima - o firmamento...

E no mar e no céu - a imensidade...

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!...
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! Ò rude marinheiros
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia...
Orquestra - o mar que ruge pela proa,
O vento que nas cordas assobia...

Por que foges assim, barco ligeito?
Por que foges do pávido poeta?...
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha ao mar- doido cometa...

Albatroz!Albatroz! águia do oceano,
Tu, que dormes nas nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, leviatã do espaço!
Albatroz!Albatroz! dá-me estas asas...

II

Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual o seu lar?...
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina...
Resvala o brigue à bolina
Como um golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa a bandeira acena
Às vagas que deixa após.

Dos espanho as cantilenas,
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As Andaluzas em flor.
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente
- Terra de amor e traição-
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O inglês - marinheiro frio
Que ao nascer no mar se achou -
(Porque a Inglaterra é um navio
Que Deua na Mancha ancorou)
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando orgulhoso histórias
De Nelson e de Abuquir...
O francês - predestinado -
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir...

Os marinheiros helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratasmorenos
Do mar que Ulisses cortou.
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu...
...Nautas de todas as plagas!
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu...

(continua na parte dois)

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